Era uma bela janela

Vidros largos, batente de madeira. Um pouco antiga, desgastada, cansada de tomar sol e chuva pelo lado de fora. Mas por dentro, que janela. Só olhando de dentro se percebia a beleza majestosa da janela. 

Por anos, a janela esteve ali. Na construção daquela casa, pensaram muito sobre qual modelo escolher. Com um quê de clássico no seu material, mas de estilo moderno, aquela janela foi a eleita e levada para a casa. Desde então, ela é janela. Protege do sol, da chuva, da noite. Protege, permitindo que se veja do que é protegido. 

Por vezes, abrem a janela. Ela se permite abrir, não é das que travam ou rangem. É bem verdade que, com o tempo, ela foi ficando um pouco mais dura. Mas conhecendo um pouco a janela, não se tem grandes dificuldades. Esse não é o problema da janela.

O problema dessa janela era o vidro. Esse vidro. Turvo bem no meio. Rachaduras e arranhados em alguns cantos também. Mas o pior era o opaco, o deformado da vista. Vidros tão largos para se olhar e, agora, é no vidro mesmo que para o olhar. Dá para ver, no máximo, as gotas da chuva quando encostam nele, ou até a claridade que atravessa tímida, indicando um provável dia de sol. Assim não se vê direito a chuva, nem o sol. Só se vê vislumbres, fantasmas de fora. 

Deixar a janela totalmente aberta também não é uma opção, ela ainda protege, só não se consegue mais ver bem do quê. E janela que só consegue olhar para dentro não é bem janela. 

Amanhã troco o vidro. 

Ela vai ser de novo uma bela janela.

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